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02.04.17

 

 

 

Duas distintas senhoras encontram-se após um bom tempo sem se verem. Uma pergunta à outra:

 

— Como vão seus dois filhos... a Rosa e o Francisco?

 

— Ah! querida... a Rosa casou-se muito bem. Tem um marido maravilhoso. É ele que levanta de madrugada para trocar as fraldas do meu netinho, faz o café da manhã, arruma a casa, lava as louças, recolhe o lixo e faz a faxina. Só depois é que sai para trabalhar, em silêncio, para não acordar a minha filha. Um amor de genro! Benza-o, ó Deus!

 

— Que bom, heim amiga! E o seu filho, o Francisco? Casou também?

 

— Casou sim, querida. Mas tadinho dele, deu azar demais. Casou-se muito mal... Imagina que ele tem que levantar de madrugada para trocar as fraldas do meu netinho, fazer o café da manhã, arrumar a casa, lavar a louça, recolher o lixo e ainda tem que fazer a faxina! E depois de tudo isso ainda sai para trabalhar em silêncio para sustentar a preguiçosa da minha nora.

 

Fonte: www.piadas.com.br

 

 

Hoje tive a felicidade de descobrir o projecto Papai Comédia, do humorista brasileiro Fernando Strombeck. Nas palavras do próprio, trata-se de "relatos de um humorista exercendo a paternidade ativa". Eu achei delicioso!!!

 

Por contraponto à enorme quantidade de blogs e afins de mães (e ainda bem, é óptimo), é muito bom acompanhar vivências da parentalidade no masculino e, ainda por cima, com humor!

 

Neste episódio, o Fernando conta-nos como correu o seu passeio com a filha e sem a mãe.

Aqui por casa, o pai também já deu alguns passeios com a Mariana a dois e correram muito bem ;)

 

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 Eu, a fofa que está ao meu colo e o borracho atrás da objectiva!

 

 

A música é uma parte importante da nossa cultura. Através dela celebram-se valores, sentimentos, ambições. Nas sociedades ocidentais canta-se, e muito, sobre como as mulheres são seres malignos, menores, sem moral, bem como histórias de abusos, maltratos e até incentivos a que estes aconteçam. O hip hop é especialmente fértil neste tipo de temáticas. Refiro-me a canções que pretendem legitimar a superioridade masculina, as quais colhem algum êxito entre as camadas mais jovens. Muitos destes hits não são produção nacional, mas os nossos miúdos e miúdas conhecem-nos bem. Efeitos da globalização.

 

Deixem-me dar-vos alguns exemplos. Comecemos por um dos álbuns de rapmais vendidos de toda a história, The Marshal Mathers LP de Eminem. Neste álbum constam temas como Amityville, onde surgem pela boca de Bizarre estrofes intrigantes como:

“I fucked my cousin in his asshole, slit my mother's throat, Guess who Slim Shady just signed to Interscope, My little sister's birthday, she'll remember me, For a gift I had ten of my boys take her virginity, And bitches know me as a horny-ass freak” (imaginem isto cantado em português)

 

Do Brasil não vem só a Bossa Nova, mas também pérolas como as cantadas pelos célebres Racionais MC’s em Mulheres vulgares:

“Pra ela, dinheiro é o mais importante. (…) Luta por um lugar ao sol. Fama e dinheiro com rei de futebol! (ah, ah!)  Ela quer se encostar em um magnata,que comande seus passos de terno e gravata. (…) Mulheres Vulgares, uma noite e nada mais!”

 

Ainda em português, não poderia deixar de referir o polémico tema do angolano C4 Pedro, cujo videoclip foi, inclusivamente, retirado da Internet, valendo um pedido de desculpas do artista. Azar da Belita chama-se a música e relata um episódio de assédio sexual perpetrado pelo próprio:

“Eu não sou do tipo que namora, mas sou do tipo de te arrastar sem demora. Eu deixei o meu Porsche lá fora. Então bazamos sem medo. Avisa na tua amiga que ela é do C4 Pedro. Bazamos todos pro meu castelo. Arranja mais uma pro Ng. Eu trago o Big Nelo. Niggas espalhados na área vip tipo ébola. (…) É melhor não duvidar. Aceita agora, aceita! Porque depois vai ser pior. Esse é o azar da Belita. Aceita agora, aceita! Porque depois vai ser pior.”

 

E poderia continuar a dar mais exemplos, mas não o vou fazer. Para encerrar este rol de música sexista, machista, misógina e outros adjectivos afins, deixo-vos antes uma lufada de ar fresco com Capicua, uma rapper portuguesa. Depois de músicas sobre violações e meninas virgens, sobre como as mulheres são fúteis e oportunistas, ou sobre assédio sexual, partilho a letra deAlfazema, uma música do álbum Sereia Louca:

“Somos o fruto da cultura que nos tolhe, que nos escraviza pela expectativa que escolhe, impor em nossos corpos tortos pra caber no molde, impor em nossos sonhos mortos para servir a prole (…) com tradições nascem contradições opressivas, como lições para sermos fracas e reprimidas, sem auto-estima postas de lado como um talher, não foi pra isso que nasci uma mulher, não vou cumprir com a puta da expectativa, não é pra ela que oriento a minha vida”

 

A música precisa de mais Capicuas

 

*Publicado em Público

 

 

  

 

A quantidade de informação que circula na Internet é colossal. Hoje, tudo, ou quase quase tudo, se encontra disponível à distância de um clique. Parece um chavão saído de um anúncio, mas é verdade. Podemos frequentar um curso à distância, acompanhar a vida dos nossos amigos, ler um livro, pesquisar desconhecidos ou qualquer assunto de interesse, comprar um carro ou um cão, candidatarmo-nos a um emprego, ver alguém ser abusado sexualmente, etc. etc. Esta crónica é sobre a última possibilidade.

 

A indústria da pornografia ganhou novos contornos, como outros sectores de actividade, com o advento da Internet. Existe um número sem fim de sites dedicados à partilha de vídeos e filmes pornográficos que facilitam a troca deste tipo de “serviço”. Algumas dessas plataformas são financiadas directamente pelo cliente, o qual paga pelos conteúdos, noutros casos o lucro advém da publicidade. Trata-se de um negócio que gera milhões, milhões e milhões de euros.

 

Há vídeos para todos os gostos, a três, a quatro, com um toque escatológico, chicotes e outros acessórios. Um sem fim de fantasias e fetiches pronto a consumir. Apesar da diversidade, uma característica comum aparece de forma mais ou menos transversal à pornografia heterossexual. As mulheres, regra geral bastante jovens (segundo o documentário “Hot girls wanted”, dentro do tema da pornografia, “adolescente” é o termo mais procurado na Internet), surgem numa posição subalterna, passiva, com o fim exclusivo de dar prazer ao homem ou homens que com elas contracenam. Até aqui, nada de novo, não é?

 

O mais surpreendente, pela negativa, é a quantidade de oferta de vídeos em que as mulheres encenam ser agredidas, humilhadas e sexualmente abusadas (cerca de 40% da oferta online, segundo o documentário acima referido). Um dos vídeos mais comuns mostra mulheres a serem forçadas a fazer sexo oral a um homem, que entretanto as insulta, bate-lhes, mete objectos fálicos na boca até provocar o vómito e depois as obriga a sorver o próprio vómito do chão, ou de um recipiente do género comedouro para cães.

 

Surgem-me duas questões de imediato: qual é o perfil destas jovens e quais são as características do público-alvo?

 

Segundo o mesmo documentário, por cerca de 300 euros é fácil encontrar jovens que aceitam submeter-se a este tipo de violência e, adicionalmente, ser filmadas a fazê-lo. Este documentário, baseado na realidade norte-americana, traça um perfil destas mulheres. O que as move é o dinheiro, a possibilidade de viajar e a ambição de serem ricas e famosas como, por exemplo, Kim Kardashian. Não são necessariamente oriundas de contextos sociais desfavorecidos, nem foram socializadas num contexto familiar ou social dos quais fizesse parte a pornografia ou prostituição (por vezes a linha que separa estas duas coisas é tão fina...).

 

Sobre o público destes vídeos, o documentário diz muito pouco ou nada, apenas que são muitos os homens a quem agrada este tipo de produções.

 

Debaixo do tapete das sociedades ocidentais, e sob a bandeira da crescente igualdade de género, que é real, existe ainda muito lixo. Este é um exemplo. Trata-se de desigualdade pura e dura, de subjugação de um sexo ao outro, de inferiorização e subalternização da mulher face ao homem. Se assim não fosse, teríamos à distância de um clique vídeos semelhantes, mas com homens no papel principal.

 

*Publicado em Público

 

 

A dona Maria foi visitar os netos a Paris. Também ela lá viveu durante 37 anos, graças aos quais juntou uma pequena fortuna, construiu casa na vila onde nasceu e vive uma reforma desafogada. O regresso a Portugal foi mais complicado do que alguma vez previu. Os filhos não vieram com ela e agora vive, com o marido, numa grande vivenda de cinco quartos. Casa a mais para tão poucas visitas, pois na verdade são mais eles que vão visitar a família a Paris do que o contrário.

 

Este ano alugaram um apartamento mais para o sul de França, para os meninos, dois rapazes de 4 e 7 anos, poderem aproveitar a praia que tão bem lhes faz às alergias. Nem uma hora depois de pisar a areia a dona Maria já estava a ser chamada à atenção por estar vestida dos pés à cabeça e de lenço a cobrir os cabelos. Os polícias foram educados, simpáticos até, e explicaram que depois dos atentados mais recentes o uso do burkini tinha sido proibido naquela praia e a forma como se apresentava em muito se assemelhava ao tal traje muçulmano. Raúl, o filho, indignou-se de tal maneira que toda a família acabou por abandonar a praia. As férias foram um desastre pois, como devem imaginar, ninguém equacionou enfiar a avó Maria num biquíni.

 

Vou falar-vos um pouco mais da avó Maria. A avó Maria não pinta o cabelo porque isso desagradaria o marido, a avó Maria não usa verniz nas unhas porque sabe que o marido não aprovaria, a avó Maria não toma decisões sobre o uso do dinheiro em casa, a avó Maria já foi traída pelo marido, mas sempre escondeu isso da família, pensa que são coisas que os homens não conseguem evitar… A avó Maria decidiu todos os dias fazer aquilo que é esperado dela, com todas as limitações que esta decisão encerra.

 

A avó Maria tem 68 anos, mas poderia ter 35 anos. Marias há muitas, todos nós sabemos isso! Mais do que o dress code, é o espirito de submissão ao homem que aproxima as Marias de uma muçulmana que usa burkini na praia. Talvez, quem sabe, algumas dessas mulheres de burkini tenham uma relação mais igualitária com o marido. Talvez não.

 

De qualquer forma, cabe ao Estado garantir a igualdade de direitos entre homens e mulheres, protegendo os mais fracos, nomeadamente a sua integridade física. Quando é que isso passou a significar pôr o Estado a despir as mulheres conservadoras?

 

Eu não defendo o burkini, eu abomino o burkini e tudo o que ele significa. No entanto, não sou capaz de concordar que numa democracia se use a autoridade para fazer desaparecer desta forma aquilo que nos incomoda. E há tanta coisa que me incomoda!

 

*Publicado em Público


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