Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Este é o blog das super-mulheres, onde os super-homens são bem-vindos!
Duas distintas senhoras encontram-se após um bom tempo sem se verem. Uma pergunta à outra:
— Como vão seus dois filhos... a Rosa e o Francisco?
— Ah! querida... a Rosa casou-se muito bem. Tem um marido maravilhoso. É ele que levanta de madrugada para trocar as fraldas do meu netinho, faz o café da manhã, arruma a casa, lava as louças, recolhe o lixo e faz a faxina. Só depois é que sai para trabalhar, em silêncio, para não acordar a minha filha. Um amor de genro! Benza-o, ó Deus!
— Que bom, heim amiga! E o seu filho, o Francisco? Casou também?
— Casou sim, querida. Mas tadinho dele, deu azar demais. Casou-se muito mal... Imagina que ele tem que levantar de madrugada para trocar as fraldas do meu netinho, fazer o café da manhã, arrumar a casa, lavar a louça, recolher o lixo e ainda tem que fazer a faxina! E depois de tudo isso ainda sai para trabalhar em silêncio para sustentar a preguiçosa da minha nora.
Fonte: www.piadas.com.br
A música é uma parte importante da nossa cultura. Através dela celebram-se valores, sentimentos, ambições. Nas sociedades ocidentais canta-se, e muito, sobre como as mulheres são seres malignos, menores, sem moral, bem como histórias de abusos, maltratos e até incentivos a que estes aconteçam. O hip hop é especialmente fértil neste tipo de temáticas. Refiro-me a canções que pretendem legitimar a superioridade masculina, as quais colhem algum êxito entre as camadas mais jovens. Muitos destes hits não são produção nacional, mas os nossos miúdos e miúdas conhecem-nos bem. Efeitos da globalização.
Deixem-me dar-vos alguns exemplos. Comecemos por um dos álbuns de rapmais vendidos de toda a história, The Marshal Mathers LP de Eminem. Neste álbum constam temas como Amityville, onde surgem pela boca de Bizarre estrofes intrigantes como:
“I fucked my cousin in his asshole, slit my mother's throat, Guess who Slim Shady just signed to Interscope, My little sister's birthday, she'll remember me, For a gift I had ten of my boys take her virginity, And bitches know me as a horny-ass freak” (imaginem isto cantado em português)
Do Brasil não vem só a Bossa Nova, mas também pérolas como as cantadas pelos célebres Racionais MC’s em Mulheres vulgares:
“Pra ela, dinheiro é o mais importante. (…) Luta por um lugar ao sol. Fama e dinheiro com rei de futebol! (ah, ah!) Ela quer se encostar em um magnata,que comande seus passos de terno e gravata. (…) Mulheres Vulgares, uma noite e nada mais!”
Ainda em português, não poderia deixar de referir o polémico tema do angolano C4 Pedro, cujo videoclip foi, inclusivamente, retirado da Internet, valendo um pedido de desculpas do artista. Azar da Belita chama-se a música e relata um episódio de assédio sexual perpetrado pelo próprio:
“Eu não sou do tipo que namora, mas sou do tipo de te arrastar sem demora. Eu deixei o meu Porsche lá fora. Então bazamos sem medo. Avisa na tua amiga que ela é do C4 Pedro. Bazamos todos pro meu castelo. Arranja mais uma pro Ng. Eu trago o Big Nelo. Niggas espalhados na área vip tipo ébola. (…) É melhor não duvidar. Aceita agora, aceita! Porque depois vai ser pior. Esse é o azar da Belita. Aceita agora, aceita! Porque depois vai ser pior.”
E poderia continuar a dar mais exemplos, mas não o vou fazer. Para encerrar este rol de música sexista, machista, misógina e outros adjectivos afins, deixo-vos antes uma lufada de ar fresco com Capicua, uma rapper portuguesa. Depois de músicas sobre violações e meninas virgens, sobre como as mulheres são fúteis e oportunistas, ou sobre assédio sexual, partilho a letra deAlfazema, uma música do álbum Sereia Louca:
“Somos o fruto da cultura que nos tolhe, que nos escraviza pela expectativa que escolhe, impor em nossos corpos tortos pra caber no molde, impor em nossos sonhos mortos para servir a prole (…) com tradições nascem contradições opressivas, como lições para sermos fracas e reprimidas, sem auto-estima postas de lado como um talher, não foi pra isso que nasci uma mulher, não vou cumprir com a puta da expectativa, não é pra ela que oriento a minha vida”
A música precisa de mais Capicuas
*Publicado em Público
José António Saraiva escreve sobre as mudanças sociais que têm atravessado grande parte dos países ocidentais - a entrada das mulheres no mercado de trabalho e as consequências danosas para o bem-estar da família e crianças em particular.
Enquanto leio o artigo, uma série de sentimentos e reacções vão-se sucedendo: risos, gargalhadas descontroladas, vergonha alheia, incredulidade...
No seu ensaio, caracteriza a sociedade portuguesa pré-moderna como matriarcal(?). Enumera uma série de consequências negativas que, a seu entender, se devem ao facto de as mulheres terem deixado de se ocupar da família e tarefas domésticas. Entre as nefastas consequências da igualdade de direitos conta-se o aumento do adultério, "tarefas domésticas por fazer", mais divórcios...enfim, o fim de um mundo onde as famílias eram felizes e tudo corria bem.
O director do Sol (peço desculpa ao jornal pela publicidade negativa) pergunta, a determinada altura, se as mulheres são hoje mais felizes? José António Saraiva não sabe que a resposta é muito simples.
As mulheres são felizes quando conseguem dar-se bem na carreira. São felizes enquanto cuidam dos seus filhos. São felizes quando conseguem conciliar o trabalho e a família. São felizes quando têm a seu lado um homem que se orgulha do seu sucesso profissional, que partilha com ela o trabalho doméstico e o cuidado das crianças. Eventualmente, seriam menos felizes se tivessem a seu lado um homem que considera natural as mulheres dedicarem a sua vida exclusivamente à família, não podendo exercer um trabalho, mantendo-se dependentes de um homem. Para o bem da felicidade de todos, homens como este vivem de costas para o futuro e pouca influência terão no que daqui para a frente vai acontecer.