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Sempre se sentiu atraída por mulheres. É como se tivesse um íman dentro dela que a empurra constantemente para aquilo que ao mesmo tempo repele com toda a força que é capaz de mobilizar. Mas o íman está lá e nunca vai deixar de exercer a sua força. E ela sabe isso.

 

Pólo positivo e pólo negativo. Lésbica e homofóbica.

 

Inicialmente tudo era surpreendente e nada fazia Ana desconfiar das dificuldades que aí vinham. Depressa percebeu que os pais, os amigos, o irmão, a madrinha, os primos, as vizinhas – enfim, o mundo – não aceitariam de ânimo leve a sua orientação sexual. Ela própria acabou por acreditar que algo estava errado consigo. 

 

Aos 18 anos nunca tinha tido uma experiência amorosa porque não sentia coragem  para se envolver com uma rapariga, apesar de muitas lhe terem despertado a atenção, e quanto às investidas dos rapazes sentia total indiferença.

 

Aos 19 anos, já na faculdade, longe da cidade natal, conheceu a mulher que viria a ser o primeiro amor da sua vida. A química entre as duas era flagrante. Raquel, apesar de ter a mesma idade, mostrava-se bem mais desinibida e confiante. Depressa tomou a iniciativa de beijar Ana, dando início a um período que esta hoje recorda, em segredo, com saudade e bastante tristeza, mas também repulsa.

 

Aos 20 anos Ana tomou uma decisão difícil e nunca mais, em momento algum, fez algo que contrariasse a decisão tomada. Uma grande amiga de infância questionou-a sobre a relação com Raquel e perguntou-lhe directamente se estava apaixonada por ela. Ana não conseguiu lidar com a ideia de que alguém desconfiasse sequer da sua orientação sexual, pelo que negou com veemência essa ideia, apelidando os homossexuais de aberrações.

 

Ana desejava ser “normal”, corresponder a tudo o que de si era esperado. Casar com um homem, na igreja, vestida de branco, ter filhos, trabalhar no escritório de advogados do pai e suceder-lhe, ocupando o seu lugar na sociedade. Tudo isso não combinava com uma relação lésbica, decidiu ela aos 20 anos.

 

Hoje Ana tem 29 anos. Amanhã é o dia do seu casamento com Filipe, um amigo de infância. As lágrimas teimam em estragar-lhe a noite e afugentar o sono. Agarrada ao telemóvel, vê fotografias de Raquel, e pede com força que o casamento funcione como um antibiótico e lhe cure o coração doente.

 

Quantas Anas conhece? 

 

*Publicado em Público

 

Duarte nasceu e viveu toda a adolescência dentro do castelo. A mãe rainha e o pai rei tinham receio do que lhe pudesse acontecer fora das muralhas e fizeram de tudo para o proteger. Os professores iam dar-lhe aulas na torre maior. Foi aí que aprendeu inglês e mandarim por questões estratégicas do reino. Teve aulas particulares de representação, natação, viola, esgrima… Tornou-se um príncipe culto, fisicamente ágil e robusto. Como não frequentou a escola, os filhos dos empregados eram os seus melhores amigos.

 

Ao completar 18 anos foi organizado um baile em sua honra. Estava na altura de casar e o baile serviria para lhe escolher uma noiva. Foram enviados convites para todos os reinos vizinhos e no total compareceram três centenas de pessoas. O Duarte estava lindo nesse dia, mas a sua expressão facial não podia revelar maior tristeza. A mãe rainha apresentou-lhe pessoalmente duas ou três meninas de sangue azul da sua eleição. De lágrimas nos olhos, Duarte dançou toda a noite com as candidatas. Não conseguia disfarçar a tristeza e o incómodo.

 

O príncipe estava há muito apaixonado por Francisco, o filho do mordomo principal. Francisco era um rapaz forte e doce, muito perspicaz e com um sentido de humor extraordinário. Os olhos de um azul profundo hipnotizaram o Duarte para sempre. O Francisco fazia-o feliz.

 

Quando o baile terminou Duarte sentiu que chegara o momento de contar toda a verdade aos pais. Apesar de antecipar o sofrimento que lhes ia causar, não podia continuar a adiar esta conversa e fê-lo com Francisco presente.

 

“Mãe, pai, eu e o Francisco amamo-nos e queremos ficar juntos, constituir família. Se eu chegar a ser rei desta terra é o Francisco que estará ao meu lado.”

 

A mãe rainha teve uma quebra de tensão e desmaiou. O pai deu-lhe uma bofetada estridente e começou a gritar ordens. O mordomo foi despedido e o Francisco expulso do reino. Seguiram-se meses de amargura. Duarte recusava-se a sair do quarto. Emagreceu cinco quilos em poucas semanas. O rei e a rainha começaram a questionar a sua decisão, no entanto, temiam a reacção dos demais reinos. Tinham receio de que um rei homossexual – era assim que Duarte seria conhecido – poderia colocar a credibilidade e independência do reino em xeque. A avaliação das agências de rating iria com certeza cair a pique… O reino chegaria a lixo…

 

Exactamente um ano depois Duarte decidiu enfrentar novamente os pais e renunciar ao seu título. Não herdaria o trono caso não aceitassem o seu amor por Francisco e essa condição era irrevogável. Nesse momento, os reis deram-se conta do erro que estavam a cometer. O casamento aconteceu dia 1 de Abril de 1900, tendo a festa durado sete dias. Duarte e Francisco viveram felizes para sempre, com as dez crianças órfãs que adoptaram em conjunto.

 

* Publicado em Público

Homofobias

07.09.15

 

Ser gay é duro

08.02.15

 

Ser gay é duro por vários motivos. As dificuldades, por vezes, seguem-se em catadupa.

 

Conheço jovens que sempre se souberam homossexuais mas, até hoje, quase adultos/as, nunca tiveram um/a namorado/a. Quando se apaixonam não demonstram os seus sentimentos com medo da reacção, temem ser "desmascarados/as" no grupo de amigos, perante a turma, na família... Resta-lhes conhecer pessoas através das redes sociais. Por si só isso não é um problema. O problema é só existir um caminho.

 

Conheço jovens homossexuais que apenas abandonaram as cidades onde nasceram porque não se viram capazes de ali viver a sua homossexualidade. Ou seja, namorar, casar...

 

Conheço homossexuais que nunca aceitaram o facto de se sentirem atraídos/as fisicamente por pessoas do mesmo sexo e se forçaram a manter relacionamentos heterossexuais. Entretanto, alguns/mas já casaram com pessoas do sexo oposto. Até quando vão conseguir anular os seus impulsos e vontade própria, não sei.

 

Conheço casais de homossexuais "casados/as" há mais de uma década que, ainda hoje, escondem da família mais próxima a sua relação. O medo da rejeição e o receio de causar sofrimento assim o determinaram.

 

Felizmente, não conheço homossexuais que tenham sido perseguidos ou maltratados fisicamente por causa da sua orientação sexual. No entanto, infelizmente, isso acontece.

 

 


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